"...Ciclo.."

"Devoramo-nos todos os dias,
em cadeias de aminoácidos
Somos pó,
Poeira ligada uma as outras,
elos...
Seres protéicos,
Devoradores de si,
Canibais,
engolidores de idéias,
Causadores de náusea.
Vômito.
Fecha-se o ciclo do que fomos
No caldo pré-histórico,
ao que seremos,
Na super-nova."

"Pó..."

"Querer apenas não me basta,
passei muito tempo querendo,
preciso caminhar,
caminhar como um soldado em batalha,
encontrar outros pelo caminho
que me dêem cobertura,
enquanto carregamos os feridos
pensando suas chagas.
O chão é pó, é pedra é barro
como eu, também você
Preciso caminhar, abrir caminhos
ir a frente, por onde ninguém quer seguir
entre os que sofrem
entre os que tem fome
entre os que não sabem
entre os que não querem.
Trago em mim as marcas,
do meu egoísmo
os meus desejos sórdidos
que ocupam os espaços em meu coração
tirando o lugar dos que precisam querer,
pois nem a isto chegaram.
São pó, assim como eu."

"SE...

" Ah se meus passos, acompanhassem por alguns metros
meus pensamentos,
Quão longe eles iriam
e a que lugares fantásticos chegariam.
Ah se meus atos, por um dia que fosse
acompanhassem a minha crença
que diferença eles fariam
e a quantos ajudariam.
Longa distância
gritante diferença
entre o que sou e o que penso ser."

"O Caminho.."

"Existe um caminho
que me leva a tantos lugares,
pois me deixa livre pra escolher.
São atalhos aos montes que este caminho me permite,
mas cada vez que saio dele,
cada vez que tomo os atalhos
que paro nas estalagens
que desabo nos seus retiros
sinto-me mais longe do leito principal.
Quero que este caminho esteja em meu coração
para que eu posso seguir sem errar
para que possa olhar retamente
e enxergar no final
a Luz imarcecível
e nela me fixar
ficar cego
cego para tudo mais"

"voCê..."

Quem é voCê? Que Corre em minhas veias
Que aqueCe minha Alma,
Que altera minha mente,
que dispõe do meu espírito.
Quem voCê é? Que Conquista quando Chega,
que domina e toma posse,
que marCa e Cala Como o fogo,
que Contigo leva de mim algo.
Quem sou eu? Que de voCê sempre pergunto,
que admirado te observa,
que fica em silêncio quando te ouve,
que deseja tudo em teu Corpo
que espera ser seu.
Quem eu sou? Se não te tiver ao meu lado,
se lembro e sofro Calado,
se sonho e sonhando te perCo,
se te alCanço e Cansado te deixo,
sendo quem eu sou, sem saber quem voCê é."

"O Ser..."

"Quem eu sou já não mais importa
se quem fui não sai de mim
rondando, batendo enfim
insistindo não sai da minha porta.

Traço meus passos sobre o barro
em um dia que parece ser ontem
não consigo impedir que desmontem
as idéias da minha mente como meu velho carro.

Se quem fui tanto insiste
não querendo desapegar-se
talvez se eu me afogasse
neste meu eu que ainda existe.

E sendo assim tão pouco
como este soneto pobre
minha alma filha de nobres
desiste de mim este louco."

"33...."

"Aos trinta e três do segundo tempo
o jogo está quase no fim
e o adversário tem alguns gols a mais.
Aos trinta três um homem
mais que um homem
subiu um monte
não para avistar a paisagem
que antes tantas vezes admirara.
Aos trinta três trazia o peso do mundo nas costas
respondia por todos, menos por ele
e o peso do mundo deixando marcas
cicatrizes.
Aos trinta e três um homem não sabe seu rumo
anda vagando sem sentido
não o homem que subiu o monte
mas um bem desconhecido.
Aos trinta e três um ganhou de presente um madeiro
o outro banalidades e uma vida vazia da verdade.
Um aos trinta e três transpassado
vituperado e pisado por todos
outro a si mesmo pisa.
Um espera pelo outro,
um braço aberto , um outro cruzado
um sangra e chora, o outro chora e sangra
Aos trinta e três outra chance
de que a morte traga um novo começo."

"Os Muros e O Rio..."

"Para onde quer que eu virasse
somente muros eu via,
enormes paredes de bronze,
com alguns tijolos de ouro.
Tudo era quente, um calor sufocante
não podia tocar em nada,
apenas a espera
de que água fresca viesse de algum lugar
ou quem sabe um vento impetuoso.
Mas nada acontecia.
O chão derretendo sob meus pés
como pasta de prata
e nenhum lugar para que se pudesse agarrar
Acima de mim, apenas o céu de cobre
dourado reluzente da tarde
cada vez mais escaldante.
Quando achei que morreria
meu corpo virou interno
e milhões de olhos se abriram
e vi centenas de portas abertas, por onde entravam
o vento a água e a escolha.
Toda parede virou esmeralda,
o céu diamante e o chão meu tesouro,
mãos me alcançavam
e me levavam para fora daquele lugar, diretamente para O Rio
onde os milhões de olhos eram lavados
e meu interior encontrava descanso."

"Harmonia do qua..."

"Eram quatro quadrados
e um quarto de um quadro
no canto do quarto.
Cada quadrado era um quarto
do quadro no quarto.
O canto do quarto era tão quadrado
quanto o canto do quadro
e cada canto do quadro, era um quarto
de todos os quadrados.
No quadro haviam desenhos quadrados
cada desenho enquadrado quebrava
a harmonia quadrada do quadro.
Eram esquadros engenhosos
obras de um artista nada quadrado
que não se enquadrava no gênero realista da arte.
Eram na verdade quatro quadros
e cada um deles era dono de apenas um quarto do quadro
mas todos donos do mesmo quarto."

"Ondas..."

" Em um oceano azul profundo
coloco meus pés na superfície
e consigo caminhar
não há ventos
nem ondas
não há lucidez alguma em mim.
Envolvo meu corpo com meu abraço
e consigo amar por um instante
enquanto sigo caminhando.
Meus olhos estão fechados.
O sol me envolve assim como meus braços,
é morna
minha alma.
Caminho em direção a praia.
Tanta gente me esperando,
e eu enquanto ando me desfaço,
meu corpo todo vira água
e a cada passo em direção a areia
sou menos eu e mais oceano.
Quando chego na praia sou onda
e toco os pés das pessoas,
que entram cada vez mais fundo
e novamente o ciclo começa."

"Perfeição mutável..."

"Porque nunca deixo de sonhar?
E porque tudo acaba dando certo?
Sei que me entrego ao pessimismo,
mas sou no fundo um otimista.
Desanima-me o fato de muitas vezes perder a esperança,
mas descubro que a frustração que tenho
são meus dogmas manifestados,
a ignorância berrante
querendo manter seu quartel.
Se eu puder crescer só mais um pouco
sei que ainda não estarei lá
mas com meus olhos voltados a consumação de tudo
à maturidade,
ao que é mutável,
tocarei o perfeito.
Tocando o perfeito não serei mais pra mim mesmo
Meu sonho será para o outro
e o outro de forma alguma será meu inferno"

"Desculpas Moucas...

"Estou cansado de me desculpar,
por não ser quem você gostaria que eu fosse.
Você também não é tudo aquilo que sonhei,
mas não é pra isto que serve o amor?
Apagar erros,
suportar defeitos,
tolerar diferenças,
refinar a prata e o ouro em cadinhos de barros
tirar a escória e buscar o brilho?
Todos cansamos,
somos egoístas e cegos para nossos erros
mas temos olhos de águia para o defeito alheio.
É tão mais fácil ser sincero,
é tão mais fácil não ser vidente
e não exigir vidência.
Dói tanto,descobrir que o que importa pra mim
não tem significado algum pra você.
Ver que coisas importam mais que sentimentos e pessoas,
destrói meu coração.
Desculpe se não sou perfeito,
olha eu outra vez pedindo desculpas,
mas é que o rumo se perdeu e as palavras com ele
afundaram junto ao meu precioso saber.
Grito eu sei, sou tolo, acho que seus ouvidos podem assim se abrir,
mas as palavras que digo encontram um ouvir mouco.
Cada um ama apenas a si mesmo,
e a loucura do amor altruísta
é achar que pode amar ao outro."